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terça-feira, 5 de janeiro de 2010
O cinema brasileiro, por Jean-Claude
Tem um livrinhio aí nestas prateleiras promocionais da editora Companhia das Letras (a série “Companhia de Bolso”) que vale muito mais do que as vinte e cinco pratas cobradas na boca do caixa. Se você é, como eu, interessado em estudos sérios sobre cinema, e especialmente sobre o cinema brasileiro, nem vai sentir falta desse dinheiro no seu bolso. É a reedição de um ensaio clássico do estudioso de cinema Jean-Claude Bernardet, “Cinema Brasileiro – Propostas para uma história”.
Nele, você terá uma visão inesperada sobre os entraves que fazem o cinema brasileiro passar por tantas crises cíclicas e nunca, de fato, alçar o vôo que a gente sempre espera dele. Jean-Claude explica os tropeços do “nosso” cinema não com base em conteúdo de filmes, escolas autorais, correntes circunstanciais. Ou, por outra, o faz com base em tudo isso, mas analisando cada um desses quesitos a partir de questões bem maiores – e que, mesmo sendo superlativas, sempre parecem ter sido ignoradas pelos pensadores do produto cinematográfico brasileiro.
Eis a resenha: o ensaio mostra que, de cara, o produto cinematográfico brasileiro não prosperou por causa do domínio do mercado exibidor pelo filme estrangeiro – um entrave que vem do início do século e perdura até hoje. Jean-Claude mostra como este foi um entrave em vários momentos da tentativa de construção de um cinema nacional, da chanchada ao Cinema Novo. É surpreendente ao analisar o efeito que o uso de legendas causa na capacidade cognitiva do espectador brasileiro. E ainda lança uma luz bem esclarecedora sobre a geração de cineastas-intelectuais que tentou se apropriar pelas telas da consciência nacional, como um certo Arnaldo Jabor (e o nosso sempre conturbado Glauber Rocha). Nesta parte já estamos nos domínios da entrada do Estado como elemento de construção do cinema nacional, num formato que também é estudado impiedosamente no ensaio. São os tempos da Embrafilme e do combate elitista à vergonha que era a pornochanda, num enfrentamento legitimado pelo sistema autoritário instalado pelos mesmos militares que aqueles cineastas-intelectuais também tentavam contestar. Enfim, as contradições brasileiras que, o livro também destaca, a busca de uma certa “identidade nacional” também tentava ocultar.
O resto, só lendo, com tempo e atenção, que este “Propostas para uma história” é coisa para ser apreciar como quem estuda para o doutorado, de caneta na mão, fichamento mental e fruição do tipo que só existe quando o texto realmente traz uma visão inesperada e implacável sobre tema tão batido como é o cinema brasileiro.
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