quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Erasmo, um brasileiro


Quem gosta de histórias divertidas dos bastidores do mundo da música, do cinema e das celebridades com um mínimo de neurônios em funcionamento - quer dizer, quem gosta de fofocas confirmadas do mundo pop - vai se divertir às pampas lendo o relato do tremendão Erasmo no seu livro autobiográfico "Minha fama de mau", que tem sido minha leitura dos últimos dias, a terceira deste 2010.

A dureza da infância sem grana, as surubas reais e alegóricas do sucesso, a sintonia com Roberto, está tudo lá. Sem processo judicial nem nada: na bucha, livre e leve, em textos rápidos e certeiros, sem maiores análises provavelmente desnecessárias. Erasmo ou quem quer que o tenha auxiliado na formação dessas divertidas memórias, soube contar tudo como quem conversa no botequim - e é esse estilo espontâneo que permite à narrativa construir um painel bem verdadeiro do que foi a Jovem Guarda, da vida que seus integrantes levavam, do que ela provocou, da mudança que efetivamente ela promoveu sem a pretensão de liderar ninguém. Um fenômeno de mercado, mas nem por isso menos relevante para mudar a cabeça da juventude brasileira de então.

Tudo isso transparece, mas o bom mesmo é ver como Erasmo, um brasileiro comum alçado à fama tanto quanto um Lula da Silva carregando isopor na cabeça, assume e defende esta condição. Como se dissesse: -Nós somos assim mesmo, uma gente fodida que precisa aprender na marra a manha de viver. Nâo faz sentido tentar bancar o sofisticado se o nosso grande trunfo na verdade é essa ginga de quem não tem nada a perder. Um exemplo é a história hilária do dia em que, visitanto o amigo Ronnie Von, Erasmo deu uma de brasileiro e resolveu sentar na cadeira Luiz XV do cantor, uma antiguidade valiossíma a quem ele acabara de ser apresentado. E olhe que Ronnie Von, que era filho de diplomata, um sujeito bem mais "culto" do que a "gentalha" da Jovem Guarda, ainda lhe avisou, depois de explicar minunciosamente cada detalhe da tal cadeira, como o revestimento mais fino e os entalhes mais vistosos: - Claro que é só para contemplar.

Qual o quê: bastou Ronnie Von dar as costas para pegar um vinho, para Erasmo resolver que tinha de sentar naquela cadeira que tantas bundas históricas já havia abrigado. Por que não a dele? O tremendão sentou e mal teve tempo de se ajeitar um pouquinho para sentir o prazer da reminiscência histórica. A cadeira desabou com o novo e o antigo, causando aquele prejuízo para o príncipe concorrente da Jovem Guarda. E este é apenas um dos micos que Erasmo se diverte em contar para quem atravessa gargalhando as páginas deste "Minha fama de mau".

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