segunda-feira, 19 de julho de 2010

Chegada

Três mil quilômetros, centenas de caminhões ultrapassados, duas noites em hotéis de beira de estrada, incontáveis horas na companhia de Bernardo e Cecília no espaço de uma Palio Weekend e aqui estamos nós, finalmente, em Acari City. Agora são seis e meia da noite de segunda-feira e não faz mais de três horas que chegamos, nem tão exaustos quanto imaginávamos mas de qualquer maneira ainda meio desorientados pelo excesso de horas de viagem. Por mais que a gente não queira, parece que o asfalto e suas listrinhas da sinalização horizontal ainda estão passando, correndo, sumindo e reaparecendo na visão da gente.

A primeira parada aqui é para dizer da tranquilidade com que a viagem transcorreu, pouco lembrando aventuras anteriores que fizemos uns seis, sete anos lá para trás, qunado essa longa travessia Distrito Federal - Rio Grande do Norte, por mais divertida que fosse no seu transcurso, invariavelmente trazia em seu final, na chegada, uma sensação de cansaço e exaustão como se a gente tivesse subindo o pico da Neblina. Agora, não: e mesmo com a carga a mais das crianças que, naturalmente, têm a tendência de se cansar até mais do que a gente, claro, no sentido do esgotamento não físico mas mental. E quando as crianças ficam entediadas na estrada, quem tem uma delas em casa sabe o que isso significa: brigas entre elas, gritos desnecessários, farras de colegial que elas ainda não são, enfim, o tipo do descontrole que tira a paciência e a concentração dos pais. Nâo digo que não tivemos de tudo isso um pouco, mas foi muito menos do que a gente esperava.

Bernardo se impressionou de ver um burrinho amarrado num pé de pau numa rua de Belém de São Francisco, em Pernambuco - e depois disso festejava toda vez que via um bicho soilto na cidade, o que não muito raro porque esse município do sertão nordestino parece ter as ruas tomadas por bois, vacas e cavalos a esmo. É uma bela cidade, não me entendam mal, mas realmente tem alguma coisa de indiano que a gente percebe quando vê tanto ruminante vagando assim, por exemplo, no "baixo" local da noite de domingo, que foi quando passeamos um pouco por lá. Enfim, isso é apenas uma das muitas notas curiosas do diário de viagem de Bernardo, em sua primeira incursão pelo interior do país no esquema pneu no asfalto.

Cecília, cuja idade permite uma fruição um pouco maior dessa jornada, comportou-se como a senhorinha que ela é na intimidade de casa. Dormiu cedo quando foi preciso, acordou mais de uma vez já dentro do carro em movimento em plena estrada sem reclamar, "cuidou" do irnmão tanto quanto foi possível e tirou fartas sonecas quando a viagem não trazia nada que lhe apetecesse. De memória, assim , rapidamente, registro como destaque do seu bloco de notas de viagem imaginário a contemplação pela janela de inúmeros sítios e fazendas, daqueles de beira de estrada que mais parecem ilustrações de livro infantil e que ela, com toda certeza, daqui a pouco estará desenhando em seus cadernos e folhas avulsas.

Para os adultos, o que mais impressionou foi a imagem de punjança ecoômica do país que o trânsito de caminhões anunciou, especialmente no interior da Bahia. O tal espetáculo do crescimento foi uma constante nas cargas e mais cargas que vimos transitando pelas estradas que usamos. Sem falar nas condições das próprias estradas, boas como nunca vimos em nossos 16 anos de moradia em Brasília (durante os quais fizemos várias vezes esse mesmo percurso). E a constatação de um certo estado de espírito impresso em rostos, fachadas de casas, aspecto geral das cidades às margens das rodovias que confirmam a emergência daquele outro Brasil de que falei em postagens anteriores. E ainda a comprovação de que o Brasil é um país em obras, tantas foram as que a gente viu no percurso - um país completamente novo, em tudo diferente daquele que cruzamos em anos remotos, quando as estradas no interior da Bahia mais pareciam trilhas de um sinistro motocross do descaso com o bem público.

Mas tudo isso é assunto para outras postagens, que a recuperação do cansaço imediato permitirá que sejam escritas. Este papo balancial de resultado de viagem está só començando e novas conversas virão.

Um comentário:

  1. Que bom que chegaram. Sejam sempre bem vindos. Quando vou poder vê-los? Chegam quando aqui? Saudade de todos.

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