quarta-feira, 14 de julho de 2010

On the road again


Os dias são de expectativa: sim, vamos cair na estrada de novo, como há muito não fazemos, menos ainda com a companhia de dois ajudantes de tenra idade, 5 e 3 anos de muita disposição para enfrentar (tomara!) quilômetros de asfalto contornados por casinhas de janelas coloridas. Tomara mesmo: é a primeira vez que topamos enfrentar os 3 mil quilômetros que separam Brasília de Natal - via Acari, claro - na base do pneu no asfalto, levando os meninos na garupa do palio. Mas vamos, porque a vontade é muita, a necessidade imensa e a oportunidade - não muito animadora em sua natureza primeira, já que Rejane não ficou naquele trabalho do Sindijus - surgiu. E vamos, saindo no próximo sábado com uma agenda de conversa no bolso para desfiar quando Cecília e Bernardo - especialmente Bernardo - estranharem o embalo do motor e a monotonia da paisagem, apesar das janelinhas coloridas em trânsito.

A expectativa traz à mente, inevitavelmente, imagens e enxertos de viagens outras dessa mesma natureza, em época sem Cecília e sem Bernardo. Tempos em que era possível presenciar uma cena brasileira no litoral da Bahia, com famílias esfomeadas enchendo sacos com restos de farinha desabada em desastre de caminhão na saída de Itabuna para Ilhéus. Ou então sequencias mais poéticas, como o inesperado "mirim" de futebol só de meninas disputado em terreno de beira de praia nas beiradas de Itacaré. Ou ainda a imagem hitchcooquiana de uma caminhonete que saiu da sua pista e veio, e veio, e veio e, ôpa, tá vindo mesmo, na nossa direção, bem de frente pro nosso parachoque de uno mil quando a gente já estava quase chegando a Caicó. Desviou no último minuto o maluco - ou por outra, agora lembro bem, fomos nós que desviamos até o limite do derradeiro espaço no acostamento da nossa via, e o que quer que tenha sido aquela pessoa na caminhonete de livro de Stephen King se foi assombrar outras almas. Nunca entendemos o que foi aquilo.

Só sabemos que coisas assim - a malta enchendo sacos com os restos da carga caída; o futebol das meninas; o motorista maluco na contramão - são coisas da estrada, para onde não vemos a hora de retornar. A aventura toda - estrada, Acari, Pipa e Natal, se tudo sair conforme o planejado - vai durar duas semanas de férias contadas para mim e pausa para Rejane. O diário de bordo, naturalmente, virá, em postagens exclusivas aqui da "Hamaca", enquanto a matriz "Sopão" segue bufando vistosa ao versar sobre temas de natureza menos familiar. Pode ser menos importante a "Hamaca", mas com toda certeza é mais divertida - e não sou eu que vou arbitrar disputas vãs de vaidades vazias entre meus dois produtos falidos. Até porque estou praticamente de férias e mal tenho tempo de pensar em outra coisa que não seja a velha estrada outra vez deslizando diante dos meus olhos.

Espero a companhia amiga da leitura de vocês nas paradas do caminho.

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