Steve Jobs, todos conhecem. Mark Zuckberg, idem. Mas e
o restante dos empreendedores de informática que cresceram, estabeleceram-se e
ganharam milhares de verdinhas à sombra dessas celebridades do Vale do Silício?
Onde estão, como vivem, de que se alimentam e como se reproduzem? A novela The
Unknowns, de Gabriel Roth, não é um Globo Repórter mas responde a essas perguntas
a partir do personagem Eric, um típico nerd que virou milionário mas continua meio
sem rumo na vida.
Narrado em primeira pessoa pelo tal Eric, que usa e
abusa do recurso da auto-ironia, The Unknowns é um livro curto, divertido mas
nem por isso pense que se trata de algo não muito denso. Tudo começa numa festa
comum de jovens em São Francisco, num tom de coloquialidade que lembra mais um
roteiro do seriado Friends, mas aos poucos evolui para um autêntico teste de
crescimento de Eric – e, por extensão, o leitor conclui, de todo um segmento de
novos riquinhos que a onda da informática de softwares avançados, redes sociais
que cobrem tudo e todos e a monetização de tudo isso trouxe para o mundo que
tão bem conhecemos hoje.
Eric desenvolveu com um amigo um programa de padrões
de consumo que, ao ser vendido a um grande grupo empresarial, fez dele um
milionário precoce: praticamente um garoto cheio da nota que não teve tempo de
desenvolver a própria personalidade enquanto lidava com logaritmos. A
matemática dos sentimentos e relacionamentos não avança na mesma proporção do
software que o garoto cria e que vale ouro para quem deseja atingir o
consumidor com publicidade direta, por exemplo. Claro que sabemos onde esse tipo
de iniciativa acabou dando, a eleição de Trump e quejandos, mas não é disso que
trata a novela, claro.
Essa é apenas a janela de contemporaneidade que serve
de ponto de partida para o autor jogar com Eric e especular sobre a condição
desses novos ricos e seu entorno, explorando um tema que a atualidade deve
legar ao futuro. Até porque mal você se situou nesta condição do personagem,
entra em cena outra questão igualmente atual, a das denúncias de abuso sexual de
crianças dentro de suas próprias casas – e sua contestação, igualmente polêmica.
O livro se adensa, o protagonista se perde – logicamente é mais simples lidar
com equações do que com sentimentos, ainda mais do tipo que mal se consegue
expressar, quando mais resolver – e The Unknows sobe vários degraus.
Aqui o livro deixa de ser uma superficial versão
escrita de coisas como o seriado Friends e procura deixar sua marca no mundo da
literatura propriamente dita. The Unknowns não tem uma versão em português, mas
neste mesmo mundo de que trata o livro do novo comércio que desconhece
fronteiras, pode ser facilmente encontrado nos Amazon da vida.
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