sábado, 14 de novembro de 2009

Bye, bye dias brancos


Depois de dias e dias brancos como Geraldo Azevedo nenhum desejaria, Brasília teve hoje um sábado ensoladado e calourento, úmido e abafado. Enfim, alguma coisa entre Natal e Belém, que eu nem conheço de fato mas conheço muito bem de fama. Falo do clima propriamente dito para me referir à atmosfera que tal configuração meteorológica acabou produzindo: um ar de costa nordestina na cidade, uma ansiedade por carnavais, ruas cheias, presepadas litorâneas, francas risadas caboclas, por aí.

O jeito foi molhar em água e secar em sol o espírito de outros tempos, mantendo vivas as conexões que ainda é possível ter com seus signos presentes. Para ir direto ao ponto, o que fiz foi botar pra tocar um punhado de discos que bagunçam qualquer calendário e subvertem o mapa das moradias, fazendo com que você se sinta irrecusavelmente em Recife - ou no Recife, como querem outros - um minuto antes do carro abre-alas do Galo da Madrugada dobrar a esquina da avenida Guararapes. Ou então lhe teletransportando, qual um invento espacial-brazula-delirante, para os últimos momentos do desfile anárquico da Bandagália pelas ruelas de Black Point, prontas para despejar seu corpo cansado ladeira abaixo rumo a um banho de mar em qualquer ponto da década de 80.

Foi assim que ouvi, praticamente às lágrimas, a Banda de Pau de Corda e o velho Alceu quando um pouco mais jovem, cantando Felintos, Guilhermes e Fenelons, enquanto eu tentava o mais fajutamente quanto é possível ensinar aos meninos uns rudimentos de frevo mal executado. Depois, fomos à Praça dos Três Poderes literalmente para dar milho aos pombos,mas os bichinhos já haviam ido para a cama, naquela escultura a que, na falta de título mais criativo, convencionou-se chamar de "Monumento ao Pegador de Roupa". O jantar foi no Mangai brasiliense, onde, para nossa surpresa, havia, combatendo valentemente o calor planaltino, um vento de extração nordestina como só se encontra na esquina da Deodoro com a João Pessoa, em Natal. De volta para casa, está rolando, como é de praxe ao menos uma vez a cada dois meses, o maior festão na casa do vizinho, carros subindo pelas paredes, dificuldade de chegar ao nosso portão - e aquele big sucesso, "Ciumenta", tocando a mil para a rua inteira cantar junto, fácil fácil como uma melodia do Jota Quest. É em momentos assim que a gente compreende como é possível gostar de tudo, até do sertanejo universitário, desde que uma porta secreta se abra ao final de um dia pontuado por saudosos insights.

P.S: Neste novo equipamento incorporado às mudanças da Hamaca, lá embaixo e ao lado, tem uns vídeos do Youtube que o autor sugere. Calma que ainda não vou colocar os gordinhos Menotti e Fabiano - grandes cantores a quem presto minhas homenagens - , mas começo com Elis Regina, que se não for consensual não sei mais nada de nada. E pra ficar ainda melhor na foto, acrescentei Maria Gadu, novinha em folha e tinindo de interessante. Aparecem lá de vez em quando umas coisas que não fui eu que escolhi, mas que parece que é meio obrigatório: evitem. Fiquem com Elis em várias fases e Gadu neste seu primeiro e belo momento. Os gordinhos Menotti, fiquem tranquilos, ao menos por enquanto, que só coloco lá quando tiver comido pelas beiradas as resistências dos que me leem essas mal digitadas de sempre.

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