Não existe solidão na cidade de São Salvador. Como diz minha cunhada Sandra, “é gente, é gente, é gente!”. Em praticamente todos os lugares. O Rio Vermelho, como já comentei em outras ocasiões, acabou sendo uma espécie de amostra soteropolitana sem maiores agonias – se você, claro, abstrair a ansiedade dos motoristas em geral, que nem ali, entre o banquinho de Jorge e Zélia e o Mercado do Peixe, pisa no freio. Mas a aquarela local que você sempre viu por aí, na revista, na tevê ou na imaginação gerada pelos livros do nosso amigo, está toda desenhada ali.
Mas nem tudo é perfume de dendê – pro pessoal que é fã do tempero. O vuco-vuco de todos os lugares me incomodou um pouco, logo eu que sou dado à massificação, um processo que me aciona no mínimo a curiosidade. Mas sejamos menos rigorosos com os ruge-ruges da baía de todos os engarrafamentos: logo mais acima, em terras alagoanas, também encontramos tudo superlotado, a ponto de a muito custo se encontrar uma pousada onde refazer o esqueleto antes de seguir viagem. Tentamos Barra de São Miguel e necas. Arriscamos a Praia do Francês e... foi por pouco. Na manhã seguinte, Maceió e todo o seu litoral norte prateavam-se de gentes ao sol. Achei as lagoas que antecedem Maceió menos cheias do que de costume, mas alguma coisa neste novo Brasil tem o direito de estar um pouco mais vazia, nem que seja para compensar os excessos do outro lado da divisa.
Em Natal, nada de praia no primeiro dia. Só família, fa-mí-liaaaa como diz Bernardo na hora de registrar em fotos o encontro da parentada na porta do restaurante em Areia Preta. Somente nesta segunda-feira descemos à Ponta Negra, onde sempre se encontra um brasiliense tirando férias do Planalto Central. Hoje quem estava lá era o nosso amigo Washington, que trabalhou com Rejane no Unafisco e em outros sindicatos do sempre cheio Setor de Diversões Sul. Mas o registro mais importante nas terras de Poti foi o que verifiquei assim que coloquei o pé nas escadarias que dão acesso à praia: alguma coisa estava sendo esvaziada.
Alguma coisa muito indesejável, que há tempos está para ser recolhida das ruas de Natal.Todo mundo que tem um mínimo de informação sobre os últimos acontecimentos na cidade do sol já matou a charada: sim, antes mesmo de pisar na areia fomos premiados com a visão de um grupo de garis recolhendo os molhos de lixo acumulados no que restou do calçadão de Ponta Negra. Fiquei grato pela visão e reforcei meu otimismo diante da gestão de Carlos Eduardo que está recomeçando. Boa sorte e juízo, prefeito. Mais do que uma providência inadiável, ver os nossos heróis anônimos em ação contra o lixo político geral que pairou sobre a cidade nos últimos anos foi um ótimo sinal. As melhores boas-vindas que a gente poderia ter, especialmente quando se dá uma olhadinha ali ao lado, no outro bairro, em outra praia, na avenida popular que leva ao Pitimbu Maria Izabel Resort, e percebe, pelo olhar e pelo cheiro, o tanto de sujeita que ainda precisa ser mais e mais recolhida.
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