quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Feriado na feira



A hamaca é de Poti, mas a dica de hoje é de coloração candanga: trata da tradicional, mas agora returbinada, Feira da Torre no centrão da capital de Jotinha. O que era uma espécie de mercadinho de lembranças de viagem para quem vinha ocasionalmente a Brasília foi ganhando fôlego e mudando suas feições. Uma mudança que foi ficando mais e mais evidente após a transferência da feirinha para as novas barracas ao fundo da Torre de Tevê. O resultado é que agora a feira pode muito bem reivindicar a condição de espaço de passeio de quem convive com BSB Citi por muito mais do que uma viagem cívico-política de fim de semana ou uma convenção partidária. 

Sem rodeios: a Feira da Torre é um programão para quem quer respirar os ares do centro de Brasília - até porque a atmosfera daqui se renova quando o ar quente da seca dá lugar ao ar úmido do verão -, para quem quer provar um sabor regional acondicionado em barraquinhas - que vão da tapioca à cocada baiana -; assim como para quem quer nada mais do que se divertir com a criançada empinando uma pipa. Dá até pra comprar uma lembrancinha da capital, viu?

O que é que feirinha tem? Tem acarajé, tem sofá sob medida, tem artesato em metal ou pano, tem o reduto raggae que é uma de suas marcas principais, tem camiseta da Legião Urbana, tem cheirinho pro banheiro, tem o escambau. Tudo isso num pequeno planalto à parte na região central da cidade, com o céu característico da cidade a um toque da mão e o chão vermelho dos trechos não pavimentados também prontinhos para empastelar seu calçado. Se chover - e chove nesta época, é batata e é uma benção - corre-se o risco de sair da feira com o espírito satisfeito e a roupa encharcada: mas até esses incovenientes de feira ao ar livre (na seca, é o excesso de sol quem ataca) fazem parte do passeio, obrigando o brasiliense natural ou artificial a sair do circuito Parkshopping-Pátio-Terraço-Iguatemi-e-Quejandos.

A Feira da Torre tem o poder de fazer você esquecer que está numa cidade demarcada pelo trinômio política-burocracia-alto consumo. Insere plantas de verdade no chão de Lúcio Costa, despeja cores no preto-e-branco do calendário da cidade, toca uma musiquinha peruana para lhe lembrar, para além do seu bom gosto dirigido, que você também é apenas um rapaz latino-americano, man. E ainda oferece, embora por precinhos cada vez menos camaradas, uma fileira de objetos para você sacramentar suas ligações fetichistas com o lugar que habita, composto por um cerrado que está sempre em volta e que nem sempre você é capaz de ver.

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