segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

A retrô poética de Gustavo (Entreblogues)

De Brasília a Pirangi, de Taguatinga a Natal, nosso amigo Gustavo de Castro segue lapidando sua razão poética sempre afiada. O texto abaixo é sua "Retrospectiva poética" do ano (e o link para o blogue do moço, você sabe, está na lista dos "Outros Cardápios" do Sopão). Dá-lhe, Gustavo:

"De Janeiro a Dezembro, o ano foi dividido em doze casas de trinta noites instáveis.

Nas noites sem toques ocorreram flutuações cruas. Dormiu-se trezentas vezes de barriga vazia e sonhou-se com o leite do desejo derramado.

Durante o ano, nem o silêncio nem o bom senso venceram o palavreado e o falatório. Tiveram tardes todos os dias, mas alguns dias não tiveram manhãs. De todas saiu-se com o desejo de ficar.

Afundou-se na terra para além de pedra de sal. Cascaviou-se a terceira dimensão e nenhum livro salvou da fome este ano.

Cortaram dois trilhões de árvores distintas; respirou-se mal e ninguém comeu sem colesterol. A masturbação feminina superou todas as mãos juntas. Inclusive a das flores.

Esteve-se mais sentado do que andando. Mediante o tempo parado fez-se muita coisa no espaço oscilante. Os rastros dos sorrisos contados deram dois trilhões de alegrias dispersas. Mesmo assim, chorou-se muito.

Nem todas as lágrimas valeram a pena.

Em sete minutos terminou-se quatro anos. Cinqüenta quintas feiras quiseram charutos e brincos de ouro. Dois dentes amoleceram e outros dois foram caiados.

Vinte-e-uma topadas não derrubaram o cabra.

Dez sambas foram compostos. Cinco roques refeitos blues. Nada mudou na esquina exceto os mendigos. A paz mundial não foi alcançada e não foi desta vez que o mundo se acabou.

Não havendo linha divisória entre nada e nada, nadou-se entre instantes não como merda n’água. Algumas aulas valeram a pena, outras vezes foram as cachaças que valeram.

Choveram dois trilhões de harmonias dispersas. Um terço era verde e rosa.

Neste ano todas as lágrimas encontraram lugar para cair. Mas nem todas valeram a pena"

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

O último cajueiro de Alex Nascimento

Começar o ano lendo um Alex Nascimento, justamente chamado "Um beijo e tchau". Isso é bom; isso é ruim? Isso é o que é - e tcha...