Every Day, um livro pra adolescentes – primo de
todos aqueles títulos de John Green – tem uma premissa irresistível: imagine
alguém (garoto/garota – e essa variação torna a coisa ainda mais instigante) que
não existe em um único corpo físico, como qualquer um de nós, teenager ou not.
Todos os dias, invariavelmente, ele “acorda” – e as aspas estão aqui apenas
para dar ainda mais literalidade ao termo – no corpo de alguém de sua faixa
etária, por volta de 17 anos salvo qualquer esquecimento. E vai viver aquele
dia nas circunstâncias específicas daquela pessoa. Todos de uma mesma região,
de cidades próximas, com realidade ao mesmo tempo semelhante mas absolutamente
diversa a partir do momento em que se está na pele de cada um.
É um desses livros cultuados pelos adolescentes
cobertos pela cultura pop americana atual – e, segure as pedras nas mãos, como
é bom, interessante, rico, sugestivo e finalmente divertido. A cada dia, o
personagem que se identifica apenas como A. vive um dia da vida de outra pessoa
da sua idade. Com isso naturalmente ele experimenta vivências dos outros com
uma profundidade de que nem desconfiava, num leque de possibilidades que cobre
temas como a dependência de drogas, a homossexualidade, a depressão juvenil ou a
inconsequência pura e simples. Não há explicação para o fenômeno – a graça está
em vivê-lo junto com o protagonista-narrador e, por meio dele, experimentar as
dores e delícias de ser o que é cada um dos jovens cujos corpos ele ocupa. Não
consigo pensar em tema mais atual.
A. já se acostumou a este tipo de vida e não se furta a explicar, neste seu monólogo que logo se tornará uma espécie de diálogo muito mais problemático, como harmoniza tudo se a cada dia precisa se adaptar a uma existência diferente. O problema – e aquele diálogo complicado vem daí – é que um dia ele se interessa a tal ponto por uma garota que se vê levado a revelar essa situação (claro, só nós leitores e ele sabemos de sua condição). Também passa um sufoco depois que um adolescente mais atento desconfia de que foi tomado por alguma forma de vida que não era ele próprio. São notas de aventura que mantêm o livro de pé, fazem o leitor quase devorar as páginas de tanta ansiedade para vencer os desafios narrativos que a premissa estabelece.
Mas o fundamental é a essência do tema: viver um dia na pele de um contemporâneo do seu tempo e do seu mundo e experimentar ver este mesmo mundo sob a ótica de um semelhante nem tão semelhante assim na hora do pega-pra-capar. Every Day é um achado. Despretensioso na abordagem, leve na profundidade, grande na efemeridade que não tem vergonha em aparentar. Um best seller como há muito eu não lia.
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