Reencontrar Paul Auster com este Leviatã foi,
primeiramente, como religar os pontos com o Phillip Roth de Pastoral
Americana. Só que no lugar da maluquete pop-terrorista do livro de Roth,
temos aqui um par de escritores do tipo ponderado/desiludido, focalizados no
quadro geral da loucura norte-americana que resulta em bombas, tiros e
assassinatos (um tema recorrente que cobre tanto Kennedy quanto o 11 de
setembro). Atentados como slogans desesperados em faixas abertas no Central
Park. América, terra de oportunidade para todos - incluindo os fanáticos. Numa primeira impressão era bem menos próximo do Auster de que me
lembrava, aquele das subjetividades de O conto de Natal de Auggie Wren,
o miolo do relato do que virou o roteiro e o filme Cortina de Fumaça
(que, milagre dos milagres, acabo de encontrar em DVD numa feira de trocas num
aldeia nas matas de Goiás, mas esse é outro papo). Em termos formais, há sim, a
mesma identidade - neste escrito como naquele, ou naqueles, Paul Auster tem o
costume de abrir grandes valas de não-acontecimentos, dúvidas, terrenos de
sombras, parênteses do desconhecido, histórias perdidas que mais tarde, só bem
mais tarde, os personagens - e nós, leitores, junto com eles - vamos recuperar.
Soa divertido porque você acaba tendo a impressão de estar remontando os
romances junto não só com os personagens, mas com o próprio autor. Pensando
bem, as cortinas de fumaça continuam lá, as longas conversas, as especulações
sobre o que este incômodo (mal) estar sobre o mundo sugere, inspira, cogita e
nunca define. Eis Paul Auster, eis uma retomada.
conexões entre amigos, livros, filmes, discos, memórias, férias, viagens, natal e brasília
quinta-feira, 9 de junho de 2016
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