O cara terminou, depois de 30 horas de leitura (o kobo da Cultura conta
pra gente e dá o saldo no final), "O homem que amava os cachorros", esse
tão badalado livro que dez entre dez leram. Uma reconstrução romanceada
da vida do assassino de Trotski e de toda a série de fatos que
terminaram com esse crime histórico, reverberando nos dilemas e
decepções da Cuba atual e da União Soviética agonizante. Alguma coisa no
clima "o sonho acabou, que merda". Tem
um problema no texto de Leonardo Padura que me incomodou: o excesso de
explicações, o abuso de comentário sobre os conflitos narrados, certo
exagero na tradução simultânea sobre o estado de espírito dos
personagens. Isso aumenta muito da metade do livro em diante. Passa do
ponto: é como aquele tipo de filme que insiste em dizer a quem assiste
sobre como deve reagir ao que está vendo. Um pouco menos e sairia ainda
mais forte - porque, para além disso, é um livro de muita força.
O Leitor Bagunçado também terminou - e aqui, como a leitura foi no
papel, não tem contagem de horas - "Uma certa paz", de Amós Oz: bela
descoberta. Conflitos familiares num kibutz reverberam os impasses
israelenses. Mas que prosa, amigo: nunca os elementos da natureza
falaram tanto sobre o que se passa num livro, manuseadas pelo escritor
como um exército expressivo poderoso e envolvente. Um amanhecer abarca a
condição de uma família inteira, um fim de tarde rastreia em detalhes a
angústia de ex-soldado. Para repetir a analogia com o cinema, pense num
filme de Terrence Malick ("A árvore da vida", "Além da linha vermelha")
e você vai se aproximar do que estou falando.
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