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quarta-feira, 24 de julho de 2013
O plano e o dique
Pode ter a ver com o pibinho ou com a inflaçãozona, mantegamente falando. Ou não, vai ver é conseqüência do novo modo Papa Chico de levar a vida. O fato retumbante é que acendeu uma luz financeira no bolso do meu cérebro e decidi baixar um plano econômico sobre a minha dispendiosa pessoa. Funciona assim: fico proibido de passar perto de livrarias, especialmente quando se tratar de uma bookshopping atulhada de penduricalhos paraliterários; não devo mais ter acesso a prateleiras de DVDs promocionais ou nem tanto; só posso adquirir um novo livro quando o pessoal que está esperando na fila for devidamente lido e apreciado; cinema, lanchonete (ainda se usa essa palavra para definir o lugar onde se come ligeiro?), banca de revista em manhã de domingo, pacotinho CVC tentador, até estacionamento de shopping, tudo isso agora tá na linha de tiro. Minha meta é pra valer – e não tem nada de flutuante, não.
Agora é tudo na ponta do lápis, com rigor para deixar enrubescido qualquer Arno Augustinho – ou seja lá como esse moço em plena fritura de fogo alto se chame. Seja lá o que ele faça com os números do Tesouro Nacional, do meu cuido eu. Já que falaram tanto na crise, que manchetaram tanto os dez mil monstros de sete cabeças que ela está prontinha para cuspir sobre o eternamente injustiçado povo brazuca, pois bem, resolvi fazer algo que nem todo mundo está disposto a realizar: a minha parte. Foi o bastante para descobrir algumas coisas, que divido com os interessados, apesar de saber que não fica bem falar de coisas assim muito pessoais na internet. Coisas pessoais são aquele tipo de confidência que, de um jeito ou de outro, acaba tendo a ver com dinheiro, classe, distinção e privacidade. E disso, é o que me dizem, só se deve deixar transparecer o necessário para impressionar. Um tantinho a mais e vai tudo por água abaixo. Por mais que este governo tente o contrário, ser referência no grupo será sempre uma arte para poucos, viu? Não sou eu que digo, são os iniciados, sempre eles.
Voltando ao assunto, descobri que aquela coisa sem cor e sem forma que de vez em quando parece estar faltando mas ninguém – nem os descolados – consegue definir é mais simples do que parece. O que tantas vezes falta é um “plano”. Elabore o seu, defina objetivos, esquematize prioridades, arme estratégias, elimine o que não combina e, boom, seus problemas acabaram – se é que você tinha mesmo um. Foi decretar a minha NEP particular (a sigla aqui é uma referência aos draconianos planos econômicos da União Soviética mais primeva) e uma porção de evidências saiu estalando na minha frente, como luzes subitamente acesas nas paredes do ar. Um variedade de lugares públicos ou a preços módicos onde levar a garotada nessas curtas férias sem sair do Quadrado (o DF); um livrinho danado de bom de Raymond Chandler adquirido num sebo alguns anos atrás; e até a redescoberta de uns velhos filmes em videocassete que lhe jogam sem dó nem piedade diretamente nos anos 80, com a correspondente e saudável lembrança do quanto havia de menos naquele período e do quanto mais você tirava proveito daquele pouco. Coisas de um tempo anterior à derrubada do paredão da barragem do consumo online – esse dique esquecido e superado, cuja queda teve por efeito inundar tudo com tanto. E deixar tão pouco espaço para a apreciação lenta que tantas coisas, apesar de tudo, ainda precisam ter.
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