quarta-feira, 16 de maio de 2012

Cinema em casa



"Um Conto Chinês", a última pequena sensação argentina, já está disponível nas prateleiras das Americanas pra quem, como eu, não conseguiu ver o filme no cinema. Um filme cotidiano, singelo e redondo do tipo a-cobra-morde-o-rabo. Pouco mais que o "conto" do título, parece mais uma novela (literária) filmada.



Havia esquecido o potencial de horror humano desse legítimo Milos Forman. Fui rever esperando a anarquia contestatória do personagem de Jack Nicholson, lembrando do prazer provocativo que é ler Ken Kesey (de quem recomendo "O Teste do Ácido do Refresco Elétrico", um livraço sobre a geração Woodstock), autor do livro que deu base ao filme e, tome surpresa. Não lembrava e nem esperava a elevada voltagem trágica do filme. E mais não digo porque o leitor pode muito bem também ter esquecido: veja de novo bem longe das tomadas elétricas.


Aí bate aquela vontade de apreciar um melodrama e você esbarra nas prateleiras da livraria Cultura com este "Eu Quero Viver", com Susan Hayward pagando por todos os pecados da humanidade - sobretudo aqueles atribuídos à parte feminina desse povo que habita o planeta - no aconchego da câmara de gás. E ela paga mesmo, um por um, luxúria, desobediência, rebeldia, atrevimento, participação em assaltos, golpes, cada um dos pecadões e pecadilhos deste mundo. Morre elegantemente vestida na poltrona em que lhe são servidas generosas porções de gás letal. Mas um pecado - só um - ela não cometeu, o de matar alguém. E é justamente esta a acusação (formal) que a leva ao fim. Um filme que é muito mais sobre hipocrisia social do que sobre a pena de morte. Destaque para o diálogo em que a anti-heroína diz, às vésperas da execução, que enfim encontrará a única pessoa que confia na sua inocência. A pessoa com quem ela conversa pensa que se trata de Deus. Ela corrige, dizendo o nome da mulher a quem ela supostamente assassinou.  Atenção para outro "detalhe": a direção, de Robert Wise ("Amor, Sublime Amor").

terça-feira, 8 de maio de 2012

Vidas Secas










Acabei de assistir pela primeira vez, entre impressionado e comovido, ao clássico do cinema brasileiro “Vidas Secas” no link do YouTube. Um filme de fotografia muito mais que poética de tão expressiva (feita, salvo engano, por Luiz Carlos Barreto), econômico como a prosa do livro que o gerou, gráfico e ao mesmo tempo sensível à realidade que projeta, a da nossa ascendência comum de nordestinos fadados a enfrentar essa sentença climática passada, a da seca, que aqui e ali volta a assaltar o presente, como acontece agora mesmo neste 2012.

Um filme quase mítico de tão realista, encorpado pela luz estourada do sertão e pela música rangente das rodas do carro de boi. Com um Nordeste que, por mais açoitado pela miséria e pela desigualdade, nunca perde a altivez interna do subjugado. Com um Fabiano cheio de dignidade ainda que debaixo da chibata ancestral da polícia e uma Sinhá Vitória plena de soberana humanidade na sua  luta para se distinguir dos bichos. Um filme onde até os bichos impõem respeito, da cachorra Baleia aos preás que ela está sempre a caçar.

Um filme que me lembrou a figura do meu pai, que se bastava na sua presença de sertanejo sem precisar fazer qualquer discurso diante de quem lhe foi posto na vida em posição superior. Que me lembrou também meus tios, no desengonçar de suas passagens por esta vida como suficientes pastores cada um de seus rebanhos familiares. Um filme que me lembrou a sombra protetora do meu avô materno e a presença sempre tão remota e temerosa do meu vicentino avô paterno. Como se todos tivessem se sentado à mesma mesa de madeira crua comigo para essa janta cinematográfica de filme de formação.

Meu pai, meus avós, meus tios, Vidas Plenas de generosidade e consciência do que são e representam, Vidas Cheias de senso nordestino de resistência, coragem e disposição sob o mais rigoroso sol do tempo.


*E imaginar como terá sido uma plateia de burgueses franceses assistindo a tudo isso no Palácio dos Festivais em Cannes, 1964, é algo que dá muito o que pensar.

domingo, 6 de maio de 2012

Domigão no Jardim Botânico

O inverno brasiliense azuleja o céu e ameniza a temperatura: isso é quase uma convocação obritagória pra gente passar uma manhã e tarde de domingo entre as plantas e alamedas do Jardim Botânico de Brasília, ver o orquidário, oferecer o parquinho infantil pra criançada, improvisar um piquenique, brincar no teatro de arena e aproveitar outras atrações que o lugar, este ano ainda bem verde nesta época, oferere. Pra quem não está inteirado, é só pegar o rumo do Lago Sul e lá, seguindo as placas, o caminho da Esaf (fica antes da escola fazendária). O ingresso custa R$ 2,00 e só adultos pagam. Importante: o local não dispõe de lanchenete ou qualquer estabelecimento do gênero. Só vá se gostar - mesmo - de natureza, sossego, verde e de reparar nos detalhes que fazem diferentes as mais parecidas espécies de plantas. Com Rejane ocupada num curso que entra pelo final de semana, fomos eu, Bernardo, Cecília e a fiel escudeira Ivone. Aprecie com a gente. CLIQUE NAS FOTOS PARA VÊ-LAS AMPLIADAS NUM ÁLBUM À PARTE, EM VISUALIZAÇÃO BEM MELHOR.















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