terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Luzes de Natal


Como não posso voltar para BSB Citi levando na bagagem um luar sobre Natal Citi, ou mesmo uma noite comum da capital de Poti que, sendo apenas normal já é um espetáculo calmo de luz, calor e brisa, encontrei a alternativa de levar um livro que traz tudo isso. É "Luzes da Cidade - Natal", mais um volume de belas fotografias do equatoriano-brazuca Fernando Chiriboga que passará a habitar minhas estantes forçosamente cada vez mais seletivas não por soberba intelectual mas por absoluta falta de espaço mesmo. O texto abaixo, muito bom de fora-a-fora (exceto quando insiste em destacar o "provincianismo" de Natal, esse lugar comum não infiel à verdadeira alma da cidade), foi publicado no Diário de Natal quando do lançamento do livro, em 2009. Leitura amena para situar a cidade, o fotógrafo, suas imagens e este meu souvenir de Poti.



A CIDADE EM TRAJES DE GALA

por Sérgio Vilar

Natal esconde segredos. Seja no silêncio das dunas do Tirol, na calmaria complacente do Rio Potengi, na melancolia parnasiana da Redinha, na arquitetura de Petrópolis, nos chãos de pedra da Cidade Alta, no cheiro de saudade da Ribeira... Sim, toda cidade tem uma alma; um espírito entranhado no coletivo de seus habitantes e recantos. É esse coletivo o motorista da locomotiva do tempo. Captar a atmosfera da cidade é exercício contínuo. E para poucos. Mais fácil ao forasteiro atento a cada silhueta das esquinas. E quando o céu adormece, a cidade se acende.em luzes, como uma sentinela da vida.


O fotógrafo Fernando Chiriboga percebe os trejeitos da Natal provinciana desde 1985. Nasceu e viveu nos Andes equatorianos. Se formou em designer gráfico e artista plástico. De uns tempos pra cá procura retratar a alma da cidade pelas lentes da máquina fotográfica. No livro Natal - Luzes da Cidade - com lançamento às 19h de hoje, na Siciliano do Midway - Chiriboga retrata a noite dacidade, amanhecências, instantes em que Natal parece dormir. São ângulos inusitados, imagens panorâmicas de uma cidade aparentemente desconhecida, como a revelação de segredos embutidos na atmosfera lírica de Natal.

São pontos turísticos, sim. Mas também pontos esquecidos, detalhes menosprezados e que contam pedaços da história da cidade. O galo fincado na torre da Igreja Santo Antônio aparece como amigo da solidão da noite; o vitral da fachada da Matriz de Nossa Senhora da Apresentação parece mais alegre após a redescoberta e o diálogo com as lentes do fotógrafo. A Natal de luz parece menos alegre sob o manto do anoitecer ou da aurora. Se derrama em melancolia e belezas tristes, singulares. A Fortaleza dos Reis Magos parece desnudada sob novos olhares. E o velho relógio da Junqueira Aires ainda marca as últimas horas de Cascudo e os casarões de paredes emboloradas da avenida.

Não bastasse a perspicácia do achar, Chiriboga também oferece informações históricas ricas em cada legenda. Os monumentos, igrejas, paisagens, vêm acompanhadas de verdadeiros guias culturais retirados de pesquisas minuciosas. Abaixo da imponência da imagem da Igreja do Galo, fotografada do chão, os dizeres: "Construída em 1763 no antigo 'Caminho do Rio de Beber Água', que compreendia as atuais ruas Santo Antônio e da Conceição, na Cidade Alta. De arquitetura barroca, sua torre é encimada por um galo de metal doado pelo capitão-mor Caetano da Silva Sanches, que governou a Província entre os anos de 1791 e 1800. No século 19, abrigou a Companhia de Polícia do Estado e ficou conhecida pela denominação de Santo Antônio dos Militares. Em sua lateral esquerda encontra-se o Museu de Arte Sacra de Natal".

As legendas e o texto de abertura - um resumo apurado da historiografia de Natal - foram escritas por Leila Medeiros Chiriboga. A publicação é em cores, de capa dura, composta por 144 páginas que contêm cerca de 120 fotografias. "Sempre pensando na luz no equilíbrio da composição, no movimento, forma, ângulo, cor, textura, perspectiva e no que euquis mostrar dos lugares fotografados, da forma que melhor expressasse a temática abordada", diz Fernando Chiriboga, já premiado pelo concurso Directv na categoria fotografia e classificado em terceiro lugar no International Photoshop Conference - Concurso Photopro Design.

Natal - Luzes da Cidade remete às noites de outrora, alumbrada por luminárias de quengas de coco, por lampiões de querosene, por lâmpadas de gás acetileno. Natal foi palco de tantos acontecimentos inesquecíveis, protagonizados por personagens eternizados nos anais de sua história... Há quase um século iluminada pela luz elétrica, a "jovem/velha dama", fascinante e encantadora, veste-se com sedutores trajes de gala, exibindo diariamente sua beleza noturna por vezes cortejada pelo luar, cobrindo a todos com sua deslumbrante capa rebordada de luzes. E lá se vão 410 anos de história e luzes...

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