terça-feira, 29 de novembro de 2011

A sabedoria do ator



Portas do conhecimento sertanejo sobre a vida e o homem se abrem cada vez que eu entro neste extenso, vivo, comovente e culturalmente inquieto depoimento do ator José Dumont que está no livro "o Cordel às Telas" (por Klwecius Henrique, série Aplauso-Perfil, ed. Imprensa Oficial, à venda na Livraria Cultura). Não dá pra esperar acabar a fruição dessa leitura pra trazer suas marcas aqui para a Hamaca. Vamos adiantando, com trechos do livro que saltam das páginas - aquele tipo de comentário que a gente queria ver exposto em out doors nas estradas e cidades do país. Com vocês, José Dumont:

Sobre Ariano Suassuna:

"Ele é um dos grandse homens da dinastia que o Brasil já perdeu. É um criador. Um organizador. Um amante da cultura brasileira, como foram Gilberto Freyre e Câmara Cascudo. Ariano faz parte desta cultura superpoderosa, da capacidade que se tinha no país, independente da época em que as peossoas existiam. A Paraíba tinha um potencial danado. Tantos grandes nomes surgiram lá. Basta lembrar José Lins do Rêgo, José Américo, Augusto dos Anjos. Zé Limeira e Zé da Luz. Perdemos essa cultura de valor, essa busca pelo grande saber, que veio do interesse pelo homem brasileiro."

Sobre o cinema de Renato Aragão:

"Se hoje um milhão de pessoas gostam de ver cinema brasileiro é porque essas pessoas passaram pelos filmes de Renato Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias. Se tivéssemos feito mais teríamos mais gente hoje em dia. Então, a meninada podia ver 'Matrix', desde que primeiro dessa uma olhadinha na ciranda, nas nossas manifestações. Vi isso em 'Dois Filhos de Francisco' (de Breno Silveira), durante as filmagens no interior de Goiás. Um garoto, numa cavalhada daquela em Pirenópolis, onde há o personagem coletivo, o mascarado, ele não deixa de gostar da cidade nunca mais. Isso não é nostalgia, é ciência, é sabedoaia popular. Quem nasceu lá, nunca vai deixar de gostar. Pode participar de todos os videogames do mundo. Poder ver todos esses filmes 'Hellboys' da vida, ma será um apaixonado pela cultura brasileira."

Sobre o Nordeste atual:

"No Nordeste de hoje, totalmente subamericao, está faltando colocar chapéu de couro outra vez, sem criar xenofobia ao tomar essa atitude. Como na natureza, tudo sofre alteração. É só saber investir nas nossas riquezas, no nossos potenciais. Se vou à Paraíba, quero comum um goiamum, macaxeira e galinha caipira. Quero ouvir coco-de-roda, ciranda, ass tocadores de vila. Nâo precisa de nada de fora, não. Antonio Nóbrega e Luiz Carlos Vasconcelos têm um trabalho deslumbrante. Não perdem tempo copiando o Sul-Sudeste, como muita gente faz. E o Sul-Sudeste, por sua vez, copia os Estados Unidos."

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