terça-feira, 28 de setembro de 2010

Gracejos do destino

O destino e suas pistas. Quase piadas escritas e interpretadas por clown de natureza mística e discreta. Houve um dia, quando eu tinha lá meus 18 anos, em que precisei morar numa pensão em Recife, para poder cursar o primeiro ano do curso de Comunicação Social na Unicap de lá. Era um momento de total interrogação, ausência de certezas como a do trapezista sem experiência e rede de proteção. Eu não sabia se teria condições - quer dizer, dinheiro - para cumprir nem seis meses do curso. O carro que me levava para a pensão tinha o rádio ligado. E era dele que vinha o chiste do destino: tocava uma música de certo sucesso na época, na voz da cantora Simone. E era como se um narrador em off estivesse descrevendo o impasse sem certezas daquele momento da minha vida: “O que será o amanhã / Responda quem puder / O que irá me acontecer / O meu destino será como Deus quiser”, dizia a letra do sambinha que todo mundo com mais de 30 anos conhece.

Semana passada, nos embalos da mudança da casa no Lago Norte para o apartamento no Sudoeste, nesta nova encruzilhada em que estamos – sempre recomeçando, com preocupação mas evitando o lamento inútil – a situação se repete. Um dia antes da mudança, chegam os funcionário do caminhão para embalar tudo dentro de casa. E quem já contratou este tipo de serviço sabe como eles são rápidos, frios, eficientes e mudos. Num instante, sua casa está embalada. Quase tudo, melhor dizendo. Porque sempre sobra uma coisinha. Foi então que vi, ao lado da televisão, meio esquecido, um único DVD da minha coleção caseira. Os embaladores esqueceram dele, não sei por quais motivos , mas para todos os efeitos é como se o DVD tivesse ficado ali para me dizer algo. Era o DVD de um filme, desses que a gente compra meio distraído nas Lojas Americanas. A pista, a piada, o chiste do destino está no nome do filme: “O dia depois de amanhã”. Foi como ouvir de novo Simone tocando no carro enquanto o Recife passava pelas janelas a caminho daquela velha pensão e daquele futuro desconhecido.

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