segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Cabra Marcado e outros tesouros do nosso cinema



Aí está a reprodução integral de um filme tão grande quanto difícil de encontrar para ver, rever, examinar, estudar, pensar e se emocionar. É o "Cabra marcado pra morrer", o documentário brazuca número 1 de Eduardo Coutinho. Pra os que fazem parte da tribo de Poti, como eu, é um filme que fala particularmente ao pé do ouvido, visto que Elisabete, sua mais que brasileira protagonista, passou anos vivendo clandestinamente na hoje submersa São Rafael, se não me fala a memória - essa matéria tão subjetiva e tão fascinante que é, ao fim e ao cabo, o tema do filme, aplicado a um período histórico brasileiro marcado pela mais pragmática das represssões políticas. O link está aqui, ademais, para lembrar o fixo ou eventual frequentador da Hamaca que a partir de agora há um outro link, este permanente, ali na coluna "Diversão e Arte" ao lado, que leva diretamente ao canal do YouTube que abriga filmes brasileiros completos. Tem muita preciosidade lá que você não encontra em locadora alguma, como vários filmes de Glauber Rocha menos notórios do que os deuses e diabos habituais. Ao filme, bom divertimento e boas incursões por esse nosso mui precário mas também bastante amado audiovisual brasileiro.

domingo, 5 de agosto de 2012

Meschiya Lake and The Little Big Horns




Três videos com gosto de quero-mais pra quem viu o show da banda no festival I Love Jazz, no Parque da Cidade, BSB Citi, final de semana que se vai.

sábado, 4 de agosto de 2012

Caim, caim




Leitor Bagunçado acabou de atravessar as mil e uma perorações humor-ateísticas de “Caim”, um dos últimos Saramagos, onde o portuga bom de letra faz gato, sapato e acessório de couro do deus pré-histório do velho testamento que, ironias atemporais, não poucas vezes tem incomodado com suas persplexidades as modernas mentes humanas atuais. O livro é um chiste de responsa sobre eventos como noés, jericós, sodomas e abraãos, brianizando (“A Vida de Bryan”, o filme) a relação entre o intempestivo deus antigo e o homem de sempre, representado na figura daquele que mata seu irmão e, crivado pelo próprio crime, torna-se prisioneiro das dúvidas e dos questionamentos que maltratam tanto quando uma maldição de 5 mil anos. Trecho: “...é outra vez a mesma história, começa-se por um cordeiro e acaba-se por assassinar aquele a quem mais se deveria amar”. Dá-pa-tú?


Na onomatopeia romanesca de Saramago, esse caim-caim que ladra contra o deus que o condena a perecer no mundo entre as terras de jó e os domínios do bezerro de ouro, entre outros sítios, é como um lamento humano conjunto dos desvalidos encarnados contra as mãos arbitrárias do criador-primeiro. Primeiro-testamento, que se ressalte. Mas se o deus primevo é essa mistura de quadro de Michelangello com terror de vitalinas, é preciso dizer também que o homem ao seu por e dispor é, embora com a duração imprecisa de caim, um sujeito da idade do sempre. Ou por outra: nós mesmos, microfones de dúvidas que vão do que somos ao que supostamente nos criou. Essa é a matéria, o barro de frases cadenciadas que Saramago tão bem esmaga, com uma habilidade que, diria-se, talvez o mais crente dos escritores não alcance. Bendito ateísmo, o do de além-mar, marido de Pilar, Nobel de nós aqui abaixo, pecadores e ignorantes da verdade histórica, religiosa e não obstante literária. Sobretudo, literária.

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