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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Natal em dia branco
Foi uma visita de médico (brasileiro, not cubano, ao que consta) a Natal no final de semana que passou. E nos recebeu entre a tarde de sexta e os finalmentes abreviados do domingo uma cidade quieta, calma, tranquila como ela um dia terá sido. Natal meio vazia, sem um só, solitário e agoniado reclamão no trânsito; Natal clara, vestida de branco como um protesto destinado a acabar em grossa pancadaria, branca como uma velha canção de Geraldo Azevedo. Uma Natal julina, baixo-estacionada em intervalos de pacotes turísticos. E, no entanto, cheia deles no hotel. Mas nem assim - Natal go back, oitentista num piscar de olhos entre uma sexta e um domingo.
Teve show na Ribeira, compromisso familiar - o aniversário da matriarca Izabel, que merece todas as homenagens -, teve praia apesar do nublado julino que não faz diferença alguma; ao contrário, mantém aquecido o corpo sem tostar o cangote. Tinha tudo pra ser massacrante, corrido, ansioso e demarcado e no entanto tudo soou como um sunday de pitanga, açaí com mel na entrada do conjunto Ponta Negra onde, aliás, nem deu tempo de ir. Natal fora de feriado, quase fora de temporada, fora das caixas registradoras e meio fora de si como convém vez em quando. Natal do alheamento, quando você encosta o cotovelo num cascudiano canto de muro e deixa-se estar, sem mais.
Nem a agonia da recepcionista do hotel que, num rompante, emparedou o colega de trabalho que se atrasou ao seu chamado - "que foi, tava com dor de barriga?" - tirou a placidez da minitemporada. Respirou-se, livre de horários por absoluta exiguidade do tempo disponível mesmo, o ar da passagem das horas. Tomou-se o sol dos últimos estertores do horário de verão, bebeu-se a água do "é comigo?", cheirou-se o perfume do fica pra depois e assim ajustou-se a nova e frenética Natal Citi de ganhos e despesas numa, como é que se dizia até outro dia pensando que se estava a falar mal do lugar...?, numa, isso mesmo, província abençoada do não ser e não estar.
A propósito, pra quem achar que a abstração pode comprometer a qualidade da homenagem: esqueçam, vez em quando, Ponta Negra e Pirangi, e corram para lugar mais próximo e de uma tranquilidade que vai explicar muito do que foi dito aqui: as praias desconhecidas da Via Costeira, nos oitões dos hotéis, onde se tem farta faixa de areia, um ou outro vendedor afixado para lhe garantir uma bebida (não mais que isso, como tantas vezes convém), espaço à vontade e uma sensação sem palavras de mar de infância, dessas que ilustravam antigos livros didáticos da segunda série primária. Você vai descobrir outra Natal.*
*De toda aquela extensão da Via Costeira, recomendamos a praia situada atrás do Hotel Parque da Costeira: você tem estacionamento à vontade e uma rua pavimentada em paralelepípedos para lhe levar até à beira do mar. Sossego que hoje, quando existe, custa caro. Lá, é de graça.
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