Alastra-se entre os filhos de amigos e colegas uma praga chamada leitura. No tuíte, no facebook, nos e-mails, no bate papo, no almoço dominical, nos corações e nas mentes é cada vez maior a quantidade de pais e mães trocando confidências entre si e pedindo dicas mútuas para conseguir deter este mau hábito que os filhos – em alguns casos, netos, o que é bem pior – insistem em cultivar. Entre os pais, o temor maior é quanto ao exemplo: de nada adianta eles apenas dizerem aos filhos, burocraticamente e como ordenam os mandamentos de certa pedagogia tipo da boca pra fora, que ler é importante; o problema é que os pequenos, despreparados para vida adulta, acreditam e caem, de fato, na vala dos livros.
Alguém
precisa chamar a atenção para a escalada dessa doença social, que começa cedo e
se estabelece sob o nariz da sociedade consumista. Ainda pequenas, mal foram
alfabetizadas, meninos e meninas descobrem, expostos nas bancas e livrarias
como se fosse a coisa mais natural do mundo, revistas em quadrinhos atrativas,
coloridas, instigantes. Os fabricantes desse péssimo material didático poderiam
ao menos fazer umas publicações mais opacas, sem tantos chamativos, de maneira
que a criança indefesa diante do monstro da leitura tivesse ao menos a chance
de não prestar tanta atenção. Depois aparecem aqueles livros que geram outros
livros, histórias em séries como esse Harry Porter – verdadeiros traficantes
desse mal disfarçados de bruxinhos do bem. Isso já deveria ter sido proibido,
até porque não é de hoje: o Harry Porter milionário de agora já foi “Os Seis”
de uma antiga série das Edições de Ouro de antigamente, pra ficar apenas num
exemplo (também tinha Beto Brasa, Xereta; um nefasto “Para Gostar de Ler” que
era apologia pura). Ninguém fez nada e aí está: novas gerações, uma após a
outra, incorrendo no mesmo erro – ler como viciados.
Examinando
detidamente o problema, psicólogos e especialistas já estão chegando às
primeiras e acachapantes conclusões: o problema maior, dizem os tampas do
assunto, é com os pais que, embora digam aos filhos em tom monótono que eles
precisam ler só um pouquinho – o bastante pra passar no fim do ano ou conseguir
uma aprovação no PAS – na verdade, e sem perceber, dão o exemplo contrário:
leem como lobos vorazes devorando verdadeiros tijolos em forma de biografias,
ensaios, novos romances e, cruz-credo, até a tal da poesia – que, dizem, em
alguns casos vicia instantaneamente. Só pra concluir o parênteses da poesia, já
se fala em certos círculos que nos século XIX essa praga, associada à
tuberculose, ceifou a vida de cérebros que, não tivessem tido contato com ela,
poderia ter inventado coisas muito úteis como o forno de microondas, por
exemplo. Um desperdício.
Então: o importante é não dar o exemplo; porque a criança, tadinha, não faz o que você manda – ela copia o que você faz. Se você é um pai ou uma mãe do tipo incorrigível – aqueles cuja dependência de livros não acaba nem frequentando o leitores anônimos – então vê se pelo menos lê escondido. Na frente dos filhos, meu caro, minha cara, já é demais. E se for flagrado trancado no banheiro com alguma droga pesada tipo um tal de “Grande Sertão: Veredas” finja que está arrancando as páginas pra usar como papel higiênico, tá? Se os meninos não tiverem sido ainda totalmente contaminados pelo mal da leitura, eles ainda podem acreditar.