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domingo, 3 de julho de 2011
sábado, 2 de julho de 2011
Lixo cultural e ardis do gênero
Canônico como Machado de Assis é para a literatura brasileira, está o ordinário Frederick Forsyth para o mundo do best seller de espionagem convencional. E como é bom, um como o outro, descontadas as inflexões de gênero, permanência, estética e possibilidades. Refiro-me à fruição: aquela qualidade que um livro, um filme, uma canção tem de ser eletrizante enquanto dura. E Forsyth, o papa do desperdício cultural a manter vivas editoras mundo afora e a formar novos e incipientes leitores a toda hora, é um mestre na categoria.
Com anos de atraso regulamentar, enfim meti-me a eletrizar-me com seu “O Dossiê Odessa” (na foto, cartaz do filme adaptado), livro-documento ficcional com base em tijolos verdadeiros e ainda quentes de comoção histórica que narra a investigação sobre um grupo de nazistas clandestinos que sobreviveu ao final da II Guerra e vive de dar proteção mútua aos seus integrantes. Um livro que começa no dia do assassinato de John Kennedy e viaja da Alemanha do pós-guerra ao Egito de Nasser não pode deixar, claro, de salpicar sua leitura com referências panorâmicas de um momento histórico singular – e nisso reside grande parte de sua graça.
Mas a Wikipédia está aí pra isso também, poupando tempo a quem busca uma informação com a mesma pressa com que vai esquecê-la. O livro de Forsyth pelo menos tem o condão de, via o poder da narrativa – essa força tão presente na espécie humana – implantar enxertos de elementos históricos na mente de quem se distrai com armadilhas, espiões, senhas e ardis típicos do gênero. E o quebra-cabeça que mistura peças como sionismo, pan-arabismo, nazismo e antipatias ao novo imperialismo nos países derrotados do Eixo ganha cores vivas quando se lê uma edição novinha de um livro já meio antigo. Talvez seja por isso que sempre vai haver um leitor atrasado pronto a, como fiz, encarar “O Dossiê Odessa” e garantir mais uma reimpressão de um lote já, à sua maneira, clássico de um Frederick Forsyth.
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